Consultores de empresas em transformação são demandados tanto por organizações em crescimento, quanto pelas que buscam profissionalização, até por aquelas que enfrentam dificuldades que sempre desembocam em dilemas ou problemas financeiros.
Num extremo ou em outro, o que sempre surpreende é que raras são as vezes em que os empresários clamam por auxílio para que alguém lhes mostre o verdadeiro caminho e solução. Geralmente, o clamor é por um milagre de cura e salvação após já terem buscado uma solução com base em tentativa-e-erro, nas experiências vividas por exemplos “similares”, no “achismo” pessoal ou na opinião de palpiteiros de ocasião.
No fundo, comparando com a medicina, o que esses doentes empresariais já fizeram foi se automedicar. Tentando ganhar dinheiro e tempo não se dão conta de três coisas: primeiro, que administração é uma ciência, técnica e sistêmica, que requer conhecimento específico; segundo, que ter uma chave de fenda não basta, se não soubermos qual o parafuso soltar ou apertar; terceiro, que tentar reinventar a roda para ser original é inócuo e oneroso.
Pior, não percebem que a lógica de um processo de cura deve ser idêntica entre a medicina e a gestão. Naquela, o caminho passa pela sequência “Análise – Diagnóstico – Plano de Tratamento – Tratamento” e, nesta, pela “Análise – Diagnóstico – Plano de Ação – Implementação”. A eficácia requer esta simplicidade cartesiana. Atropelar esse processo tentando encurtar caminho é tão arriscado quanto fazê-lo sem a devida senioridade e conhecimento.
Exemplos disso são a construção de fábricas desnecessárias ou em localização inconveniente, abertura de lojas em lugar de pouca demanda, lançamento de produtos com base em paixão, “feeling” ou “certeza” de quem decide, contratação ou demissão de colaboradores sem a dimensão estratégica do fator “pessoas”, aquisição de sistemas desconectados da necessidade e capacidade da empresa, inconsequente drenagem de capital de giro para imobilização em nova sede ou instalações, e por aí vai.
Na medicina, a automedicação é mais facilmente vista com o alto risco de ser inócua, representando uma perda de tempo que poderá ser fatal, ou ter efeitos colaterais que são sempre prejudiciais, quando não mortais. Na gestão, o quadro é o mesmo, embora não percebido pela maioria. Nesta, os efeitos serão sempre prejudiciais em termos monetários, e seguidamente, desastrosos a ponto de levar até à falência. A medicação correta requer tecnica e conhecimento, pois acertar por casualidade não permite aprender, sistematizar ou repetir: quem não sabe porque acertou, também não sabe porque errou. Simplesmente, não sabe! Analogamente ao corpo humano, a empresa é um organismo vivo que funciona e deve ser visto, analisado e operado de forma holística, ou seja, como um todo entre suas dimensões gestão / operações / mercado / recursos, onde o sucesso ou fracasso financeiro decorre dessa interação.
As verdadeiras soluções seriam muito mais fáceis se não precisássemos neutralizar ou reverter a autoajuda de gestão, que muitas vezes conduz à exigência de “milagres”, impossíveis de serem feitos depois que seu último autor morreu aos 33 anos, a precisos 1986 outonos, crucificado!
Telmo Schoeler